Uma Breve História sobre as Atualizações do Ethereum

Ao longo do último ano, os desenvolvedores do Ethereum executaram diversas atualizações para melhorar as funcionalidades do blockchain de Ethereum. Além das últimas melhorias, nós gostaríamos de analisar o desenvolvimento do projeto do Ethereum, apresentando suas atualizações passadas e futuras.

Um conto sobre os forks do Ethereum

As quatro fases do Ethereum

Lançado inicialmente em 2015, o Ethereum é uma plataforma para aplicações descentralizadas que atua como um computador extremamente poderoso sem risco de inatividade ou interferência de terceiros. A rede fornece uma máquina virtual chamada de EVM (“Ethereum Virtual Machine”, Máquina Virtual Ethereum), que executa scripts por meio de uma rede pública de nós.

As aplicações executadas no blockchain de Ethereum são chamadas contratos inteligentes. Por exemplo, uma dessas aplicações é bem conhecida por nossos usuários – ela foi projetada para distribuir a comissão semanal para os detentores de tokens Banker (BNK).

A plataforma do Ethereum é movida a ‘gás’ – uma unidade computacional utilizada para executar transações e realizar uma variedade de outras tarefas no blockchain. O Ether (ETH), uma das criptomoedas mais populares do mundo, foi planejado para ser o meio de pagamento utilizado para cobrir os custos com gás na plataforma.

A equipe do Ethereum propôs diversas melhorias do sistema ao longo dos anos. O desenvolvimento do projeto foi dividido em quatro fases principais, cada umas delas simbolizando um certo período do progresso – Frontier, Homestead, Metropolis e Serenity.

Frontier e Homestead: o início

Inicialmente, a plataforma do Ethereum foi projetada para desenvolvedores e não para usuários finais, já ela possuía apenas uma interface de linha de comandos. Esse período foi denominado Frontier, em referência ao período histórico de expansão da fronteira norte-americana mais conhecido como Velho Oeste.

On fundadores do projeto do Ethereum mencionaram que o nome foi escolhido por assemelhar-se a um lugar com inúmeras possibilidades, mas também grandes riscos – o grande potencial da plataforma atraiu muitos desenvolvedores de blockchain, mas ela ainda era instável e necessitava de melhorias.

Com o fim do Velho Oeste, as coisas acalmaram-se: recém-chegados aos EUA começaram a instalar-se em suas casas e construir casas. Um situação semelhante aconteceu na plataforma do Ethereum. Uma vez que os erros foram corrigidos e a plataforma adaptada para o usuário final, o Ethereum lançou sua primeira versão pública – Homestead.

O hard fork do Ethereum Homestead trouxe três grandes melhorias. A primeira delas removeu os chamados ‘contratos canários’, o que deu aos membros da equipe do Ethereum a chance de impedir certas atividades na rede. Logo, a plataforma tornou-se mais autônoma.

Além disso, a atualização incluiu uma nova carteira para ETH chamada Mist, uma aplicação para não apenas para armazenar e manter ethers, mas também para escrever contratos inteligentes. Por fim, novos códigos para a linguagem de programação Solidity, usada dentro da plataforma, foram apresentados.

Metropolis: a fase atual

No último trimestre de 2017, os fundadores do Ethereum decidiram dar um passo à frente e apresentar um novo hard fork chamado Metropolis. Como havia muitas melhorias para serem implementadas de uma única vez, ficou decidido que a fase Metropolis seria dividida em dois. As atualizações foram inspiradas pelos nomes históricos da maior cidade da Turquia, Istambul – Byzantium (Bizâncio) e Constantinople (Constantinopla).

O principal objetivo do hard fork Metropolis é a transição do mecanismo de consenso atual, Prova de Trabalho (POW), para um método mais vantajoso, Prova de Participação (POS). Até o momento, o Ethereum tem utilizado um modelo de consenso semelhante à rede Bitcoin, em que as transações são confirmadas por mineradores no blockchain.

Entretanto, os fundadores do Ethereum apresentaram um modelo alternativo que tornará o blockchain mais independente e eliminará o problema do monopólio dos pools de mineração. Atualmente, esses pools constituem a maioria da comunidade de mineradores, diminuindo a competição e, possivelmente, ameaçando assumir o controle da rede.

O conceito da Prova de Participação depende de ‘stakes’ ou ‘participações’, uma certa quantia de ethers que cada validador – uma alternativa aos mineradores – terá que depositar no sistema. Após a confirmação de um certo número de transações no blockchain, o(a) validador(a) receberia de volta sua participação mais uma gratificação.

Esse conceito deve se mostrar vantajoso para o aumento da competição entre validadores, já que equipamentos caros de mineração não seriam necessários e, consequentemente, qualquer pessoa interessada poderia participar. Seria muito dispendioso para validadores tentar controlar a maioria da rede, então o surgimento de um monopólio seria muito pouco provável.

O conceito de POS ainda não foi totalmente implementado e passará a funcionar com o futuro hard fork Casper. Contudo, melhorias que se aproximam dele podem ser encontradas nas atualizações dos hard forks Byzantium e Constantinople.

Imagem mostrando uma linha do tempo com os forks do Ethereum

Byzantium: atrasando a era do gelo

A primeira parte da fase Metropolis, Byzantium, trouxe um total de nove atualizações ao sistema. A primeira delas pavimentou o caminho para o método de Prova de Participação ao reestruturar o sistema de gratificação para os mineradores no blockchain.

Com a atualização, o prêmio para a mineração de um bloco foi reduzida de 5 ETH para 3 ETH, desestimulando a mineração no blockchain de Ethereum. Porém, a atualização também trouxe um atraso de 18 meses para a chamada era do gelo do Ethereum – um estado em que a mineração se tornará extremamente difícil, transferindo, por fim, toda a rede para o modelo de Prova de Participação.

Após analisar a fórmula, os desenvolvedores também corrigiram um problema de menor ocorrência, quando as gratificações eram altas se comparadas aos tamanho do bloco. Essa melhoria tornou a oferta total de Ethereum mais previsível – uma mudança crucial para os desenvolvedores, já que futuras atualizações são planejadas de acordo com o tamanho dos blocos.

A atualização Byzantium também aumentou a privacidade dentro do sistema ao torná-lo compatível com primitivas criptográficas – funções que fornecem provas criptográficas de que uma transação foi completada sem revelar a identidade das partes participantes na transação. Essa melhoria iniciou um fluxo de ativos mais autônomo dentro do sistema.

Outras atualizações foram planejadas principalmente para melhorar os contratos inteligentes do Ethereum. A segurança dessas aplicações foi reforçada por uma atualização que cria um ambiente seguro em que contratos inteligentes interajam com fontes desconhecidas que possam ser prejudiciais para a plataforma. Outro ajuste mudou a forma como as tarifas de gás são cobradas para novos contratos inteligentes implementados no sistema para aumentar sua eficiência.

Constantinople: reestruturando a tabela de preços

No início de 2019, o Ethereum avançou para a segunda parte de sua terceira fase de desenvolvimento. O hard fork Constantinople trouxe cinco melhorias fundamentais ao sistema do Ethereum. Elas focaram-se principalmente no fornecimento de alternativas mais eficientes para algumas das funções do blockchain do Ethereum.

O Constantinople proporcionou uma alternativa para a execução de transações e melhorou a velocidade do blockchain de Ethereum. No passado, eram necessários cerca de 15 segundos para obter-se uma confirmação da transação no blockchain do Ethereum, portanto tem havido uma busca ativa por alternativas que reduzam esse número.

Uma das melhorias do Constantinople, similar à solução da Lightning Network do Bitcoin, apresentou justamente isso. Ela permitiu que usuários configurassem novos tipos de canais de estado – soluções off-chain que agem como uma plataforma alternativa para a realização de pagamentos entre duas partes sem a necessidade de confirmações on-chain.

Custos consideravelmente maiores com gás têm sido considerados um problema do blockchain do Ethereum por um bom período de tempo. Os desenvolvedores da plataforma buscaram resolver o problema com a introdução de três melhorias no sistema.

A primeira reduziu os custos com gás utilizado para a execução de operações bitwise na Máquina Virtual Ethereum com a oferta de uma alternativa mais barata. A segunda atualização apresentou um considerável corte nos custos com gás ao oferecer um código alternativo para a verificação do bytecode de um contrato, enquanto a terceira melhoria teve como foco a diminuição da medição de gás para um certo opcode.

O Constantinople também apresentou outros ajustes em direção à mudança para o método de consenso “Prova de Participação”. A atualização atrasou ainda mais a era do gelo do Ethereum, fornecendo, dessa forma, mais tempo para que os desenvolvedores do blockchain preparem as medidas necessárias para implementar o novo algoritmo de consenso.

Istanbul: um ambiente mais seguro e barato

O último hard fork do Ethereum, terceiro na fase Metropolis, apresentou seis melhorias adicionais à plataforma. Embora nenhum ajuste inovador tenha sido incluído na atualização, o Istanbul entregou modelos ainda mais eficientes de utilização do gás, além de novos recursos para a rede.

Apesar de algumas mudanças em relação à medição e utilização de gás tenham sido apresentadas em hard forks anteriores, o projeto não planejava parar por ali e já lançou modelos de preço ainda mais atrativos para certas funções on-chain. A função Calldata é agora cerca de quatro vezes mais barata do que antes, enquanto os custos com gás para a execução de uma série de aplicações do Ethereum também foram reduzidos.

O blockchain de Ethereum é completamente público e alguns usuários podem não achar isso muito atrativo. Para trazer um certo nível de privacidade ao sistema, os desenvolvedores apresentaram um código mais eficiente (em se tratando de gás) para a ativação de funções equihash, amplamente adotadas em criptomoedas baseadas em privacidade, como o Zcash. A atualização visa garantir uma interoperabilidade integrada entre as blockchains de Ethereum e Zcash.

A plataforma atualizada também está melhor protegida de ataques distribuídos de negação de serviço (DDoS). Porém, a segurança da rede é garantida a um certo custo. Alguns dos opcodes para a revogação de dados do blockchain de Ethereum ficaram mais caros – a atualização de preço foi realizada com o objetivo de impedir possíveis hackers, já que seria praticamente impossível cobrir os custos financeiros de um eventual ataque.

Muir Glacier: atrasando ainda mais a Era do Gelo

Embora não seja parte original do Metropolis, o hard fork Muir Glacier foi implementado para adiar ainda mais a Era do Gelo do Ethereum, que se aproxima mais rapidamente do que o previsto pelos desenvolvedores. A atualização possuía uma única proposta de melhoria, a EIP2384.

A proposta atrasou a bomba de dificuldade e a Era do Gelo do Ethereum por 4.000.000 blocos, ou seja, cerca de 600 dias. Desenvolvedores da plataforma esperam que o atraso implementado pelo Muir Glacier seja o último do tipo, dando à rede tempo suficiente para se preparar para o novo modelo Prova de Participação.

Ethereum Serenity: a fase final

Os fundadores do Ethereum estão sempre tentando melhorar seu blockchain, fornecendo alternativas e atualizações. A plataforma, por fim, estará pronta para receber a atualização Ethereum Casper e então, com a ajuda de outro hard fork, mudar completamente para o modelo de Prova de Participação.

Nesse momento o Ethereum chegará a seu quarto estado, chamado de Ethereum Serenity. Conforme a definição da palavra (em português, “serenidade”), ele representa um estado de calma, paz e despreocupação. Nesse ponto, a plataforma do Ethereum deve atingir totalmente seu potencial.

Caso você tenha mais perguntas sobre os hard forks do Ethereum, entre em contato via [email protected].